Dançarino da Máscara Turquesa

Publicado em: 05 de Agosto, 2025

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Com dificuldade para terminar seu livro e também com problemas com a própria fé, o escritor, após muito tempo evitando, decide ir à igreja.

Lá dentro, ele escuta os sermões do padre, mas a dúvida permanece em sua mente.

“Talvez tenha sido perda de tempo”, ele pensa.

Ao sair do convento, ele coloca a mão no bolso, buscando pela chave do carro; entretanto, algo estranho aparece na janela à sua frente: um vulto.

Ao se virar para trás, ele se assusta ao ver um homem seminu, extremamente magro, de pele pálida e com tons de roxo atrás dele.

O homem, pregado em uma cruz de madeira de cedro, tem sangue escorrendo por suas mãos e pés. Seu sangue é de cor turquesa.

Seu rosto, contorcido em agonia — provavelmente pela dor angustiante que sente —, se vira em direção ao homem.

Ele tenta falar, mas sua voz não pode ser ouvida.


Assustado, a única reação possível para seu corpo é de repulsa. Desviando o olhar, ele tenta desesperadamente entrar no carro.

Dada a partida, ele desaparece sob a rua escura, jurando nunca mais retornar àquela igreja.


De volta ao ninho das palavras escritas, sento-me no chão, com o coração ainda em agitação.

Com a boca, inalo o sopro de hewhaY e, então, passo a enxergar com o branco dos olhos — aquilo que, antes, apenas olhava, mas não enxergava.

Mais uma vez, nostalgicamente, vejo o mundo de baixo e volto a desejar o alto.

Sentado numa cadeira de plástico, enxergo os estranhos conversarem. Suas palavras eu não entendo. Aguardo alguém vir me buscar, mas, passo a imaginar o pior.

“Mamãe?”


Um bobo da corte é um artista que um monarca ou nobre emprega para se entreter enquanto escuta verdades cruéis — como você.

Nesse lugar estranho, adoraria ser rei.

Com um sorriso tolo, alguém entra pela porta.

“Mamãe?”

Com um sorriso estúpido, ele olha para mim.

Sua roupa engraçada me assusta.

Ninguém havia olhado para mim antes.

Ele lentamente se aproxima, sei disso porque posso ouvir claramente o som que seus sapatos fazem quando ele anda sobre o chão sujo.

Ele sabe de tudo. Privilegiado por hallA, ele pode caminhar pelo teto.

A peste não pode matá-lo, pois ele ri na face da morte.

Ao chegar perto de mim, me encolho. Ele se curva e dá três saltos para trás. As luzes se apagam e as conversas cessam.

Com seus passos matemáticos e calmos, ele dança e canta, alegremente:

  “Stabat Mater dolorosa
  Iuxta Crucem lacrimosa,
  Dum pendebat Filius.
    
  Cuius animam gementem,
  Contristatam et dolentem
  Pertransivit gladius.
    
  O quam tristis et afflicta
  Fuit illa benedicta,
  Mater Unigeniti”
    
  Viva! Viva!
  Ó Fortuna, 
  és gélida como a Lua!

Ao finalizar, a música de antes retorna, alta. As luzes retornam e, as conversas, ainda incompreensíveis.

Finalmente, os olhos se fecham e o origami se desdobra.

A cortina desce.

Luz, pulso, fim.

“Olá, mãe.”

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