Um Motorista Chamado Caronte
Publicado em: 28 de Março, 2025
Tive que colocar minha blusa, já que agora era vez da brisa noturna substituir o calor do diurno. Com o céu escuro, sigo viagem nesse ônibus já vazio.
Mas não pense que ele sempre foi assim, muito pelo contrário, ele costumava ser cheio, em verdade. Diferentes pessoas que, mesmo com destinos diferentes, compartilhavam a mesma rota.
Gosto de comparar as pessoas em um ônibus com aquelas que conhecemos e, eventualmente, nos despedimos na vida, como um barco que segue um rio sinuoso e calmo.
Gosto de chamar esse fenômeno de “amadurecimento por solidão”, ou seja, as pessoas que eventualmente deixamos para trás nessa trilha não-linear chamada vida.
A cada parada, alguém se despede — às vezes, nem despedida há, seja por crueldade ou por subitaneidade —, na esperança de que enfim tenham chegado ao seu destino. Enquanto isso, permaneço no ônibus, pois, por enquanto, ainda não decidi qual será minha parada final.
Talvez eu seja apenas um passageiro nesse ônibus dirigido por um barqueiro chamado Caronte.