Um memoir quanto à solidão
Publicado em: 2 de Janeiro, 2025
No presente do narrador personagem que vos fala, cercado de música alta e uma orquestra de risos e gritos dos pequeninos que aqui fazem seu recinto, me encontro do pescoço para baixo molhado. Como o título dessa crônica já revela: me sinto sozinho aqui nessa piscina cheia de pessoas.
Dou um gole na bebida amarga que trouxe comigo para disfarçar a solidão. Seria estranho apenas ficar parado aqui olhando para os outros. Talvez você já possa estar pensando em como esse tema “se sentir sozinho mesmo cercado de pessoas” seja batido. Bem, ele é, e é assim que me sinto agorinha.
Provavelmente o sentimento mais comum entre nós humanos: a solidão. Em algum momento de nossas vidas, nós iremos nos sentir sozinhos, mesmo que fisicamente seja quase impossível. Pense comigo, raramente estaremos literalmente tão longe assim de outra pessoa, exceto se estivermos no meio do oceano ou na Estação Espacial Internacional. Nesse caso, de fato estamos bem sozinhos.
Mas se sentir sozinho não se limita somente ao lado físico. Nossa mente, como na maioria das vezes, é a culpada: introversão, timidez etc.
Talvez eu esteja complicando isso tudo, mas o ponto é que se sentir sozinho é inegavelmente arrogante. Afinal, por que estou me isolando? Há tantas pessoas ao meu redor agora, brincando, nadando, bebendo, conversando…
Por que insisto em permanecer aqui, isolado, apenas as observando? Seria isso uma espécie de voyeurismo bizarro? Seria uma espécie de sentimento de superioridade? Não quero acreditar que sou tão cuzão assim.
A verdade é que sempre me senti solitário: ser filho único não ajudou muito contra isso; uma vida inteira acompanhada de amizades fúteis e superficiais; romances esporádicos que causam inveja até ao Cometa Halley e outros mil problemas.
Timidez é como uma gaiola imaginária que te prende e te humilha, como uma mãe narcisista. O mais irônico é que a chave de tal gaiola está com nós mesmos. Um avião turbulento passando pelas nuvens pesadas de São Paulo, quase caindo, porém, ainda tentando alcançar algum lugar.
Essa é a minha mente.
Talvez eu até queira interagir com as pessoas aqui, mas eu não vou. Isso aqui não é uma redação do Enem, não possuo nenhuma resposta ou solução para esse problema, apenas devaneios e reclamações.
De toda forma, essa é a maldição dos solitários. Não há conclusões aqui.
Ah, que saudade daquela que me entende e me acolhe.
Oh, minha querida cama, meus queridos súditos fones de ouvido.
Queria estar com vocês agora ouvindo “Os Mutantes” enquanto curto essa solitude romantizada…