Sem título
Publicado em: 18 de Setembro, 2025
O vento sacode as flores
Que ali naquele campo
Fazem seu lar.
I.
Leves acordes de violão preenchem o ar.
Você corre pelo campo com sua irmã.
Flautas emergem, trazendo a tona a inocência de uma alma jovem.
Sua mãe ainda descansa dentro da casa
Enquanto seu pai te observa.
Seus olhos te seguem como um anjo da guarda.
Atentamente...
Pacienciosamente...
Sentadas na grama, o ar pesa.
O suor que pinga de sua testa
Toca o chão, assim como tambores anunciam o que há de vir.
As nuvens são cortadas e anjos castrados começam a cair.
Eles trazem consigo fogo
Em suas asas incendiadas.
O ar em seus pulmões incendeia as cordas do violão.
Sua mão já não consegue ser tocada novamente.
3 dias depois, seu corpo é enterrado junto com o de sua irmã.
3 semanas depois, 500 famílias também se vão.
Você não sabia, mas nós sabemos quem são os inimigos.
Flores em chamas e pianistas amputados
Cobrem o chão marcado por giz.
Trompetes anunciam a morte dos generais.
Gritos anunciam a morte dos inocentes.
Você não sabia sobre as borboletas de prata.
Você estendia a cabeça e esperava que Deus a afagasse.
Sua filha de pano e algodão,
Agora cega,
Lamenta a morte da mãe.
Aguardo o dia que o fogo cairá e limpará a terra dos falsos mártires.
Mas, por enquanto, narro a história
Dos milhares de desconhecidos que,
Até então, não conhecia.
Largo a caneta, derrubo o cabo.
Apago a luz, encerro o poeta.
Acabou chorare.
II.
Sons distantes se fazem presentes. Um lento zumbido preenche aquele lugar vazio.
Natureza morta,
Mortos nativos.
Você está de pé,
Em frente ao rio.
Água pura e cristalina.
Você está perdido.
Sinos tocam em sua cabeça e você enxerga fagulhas na distância.
Algo o chama...
Algo te atrai.
Como se pequenos seres etéreos cantarolassem seu réquiem.
Você já se esqueceu da chuva de fogo.
Ela já é passado.
Sons pesados e corais tristes começam a enfraquecer suas pernas.
Ficar de pé é difícil.
Não há abutres aqui
Mas, mesmo assim,
Algo o circula.
Observando de longe, alguém estende a mão.
Você irá atravessar o rio?
Ou permanecerá parado?